segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Uma reforma patrimonial para a Previdência ainda que tarde


Por Paulo César Régis de Souza (*)
Ao longo da campanha presidencial pouco ou nada ouvimos dos candidatos, os graúdos e os nanicos, sobre a Previdência Social brasileira, patrimônio dos trabalhadores que movimenta cerca de R$ 950 bilhões /ano, em receita e despesa, algo próximo de 15% do PIB, com 56 milhões de contribuintes e 27 milhões de beneficiários do Regime Geral de Previdência Social-RGPS. O INSS cobre 83 milhões de pessoas, equivalente em dobro à população da Argentina, que é de 41 milhões.
Não sei se os candidatos sabem o que significa a Previdência Social em termos de coesão, solidariedade, proteção e inclusão social. Enfim, seus fundamentos. Certamente, não. Seus assessores, talvez.  Imaginar que saibam o que seja o “pacto de gerações”, só com a ajuda dos “universitários” ou do Pai Google de Aruanda! Vivemos num ciclo de desmobilização, desestruturação, alienação e desinteresse pelas grandes linhas do pensamento universal.  Hoje, estamos vivendo da mão para boca, sem referências, sem rumo, sem norte, sem valores, sem lideranças, sem estadistas.
No Manifesto que a ANASPS construiu para os presidenciáveis, fizemos uma análise e sugerimos uma série de propostas inspiradas no que as instituições mundiais de Previdência estão discutindo com visão de futuro.
Temos lido, visto e ouvido considerações esparsas sobre projetos sem nexo, para se tocar a Previdência em 2015. ´Qualquer leigo, qualquer “especialista” em coisa nenhuma, qualquer PHD em “linha da curva” estufa o peito e proclama que a solução é uma “reforma da previdência”. Com eles, fazem coro os empresários do 5º. escalão, os políticos de partidos aluguel e os analistas a serviço de interesses escusos. No fundo, ninguém sabe o que é reforma da previdência, nem o que reformar. 
Quase 100% das “zelites” confundem Previdência com Saúde e mais: misturam as previdências dos servidores e dos trabalhadores no mesmo saco, o que é ignorância e má fé.
Da reforma que teria que ser feita – no financiamento do RGPS -  ninguém fala, pois não interessa. 
Desta vez, poupo meus leitores em não insistir na essência da reforma, a do financiamento, absolutamente inadiável, para não me tornar repetitivo!
Prefiro levantar outra bandeira que pode se encaixar na reforma. Não é estrutural, mas patrimonial. Pode integrar um novo modelo gerencial e de governança.
Acredito que o Seguro Desemprego que está no Ministério do Trabalho, por engano e ignorância gerencial, deveria estar na Previdência, mesmo porque sendo “um seguro social” caberia ser administrado pelo INSS, mantida toda a sua estrutura de financiamento e gestão.
A lógica seguida por todas as Previdências modernas, inclui o seguro desemprego como uma das contingências a serem atendidas. O seguro social não se restringe ao pagamento do beneficio por incapacidade, mas avança no seguro desemprego, na prevenção de acidentes do trabalho e na reabilitação profissional
Portanto, já é hora de se fazer a correção gerencial e alocação do Seguro Desemprego no INSS.  Não se pretende trazer o Fundo de Amparo ao Trabalhador-FAT para o INSS, ele poderia continuar no BNDES.
Modelos exitosos de Previdência, como o alemão, convivem com a administração da Prevenção de Acidentes no âmbito da Previdência Social.  Trata-se de uma visão integral e integrada que vai desde a promoção da saúde e dos ambientes adequados, a prevenção dos riscos inerentes ao trabalho até o pronto atendimento, a reabilitação e o pagamento de benefícios. A lógica do sistema é o investimento na proteção ao trabalhador, com ênfase na prevenção, diminuindo os acidentes com seus nefastos custos sociais e econômicos e não como agora em que a Previdência tão somente cuida do pagamento de benefícios.  A Previdência deve tratar de tudo que se correlaciona com o Acidente do Trabalho, inclusive Prevenção.
Há também necessidade de se reestruturar o programa de Reabilitação Profissional, haja visto que é uma determinação legal cometida ao INSS, de atender os segurados vítimas de acidentes do trabalho e doenças ocupacionais, visando a sua reintegração ao mercado e inclusão social.  O INSS, em passado recente, nas décadas de 60 a 80, dispunha de uma rede de Centros e Núcleos de Reabilitação Profissional, estruturada, com equipes multiprofissionais com o propósito correto de reabilitar o segurado, da forma mais precoce possível. Hoje, temos a lamentar a desestruturação desse programa que foi referencia para os países iberoamericanos.
Há que se considerar também a possibilidade de se criarem mecanismos eficientes para a gestão patrimonial da Previdência, que tem ainda 6.000 imóveis, herança do tempo da dação em pagamento, quando os caloteiros eram duramente punidos por fraudar e roubar a Previdência (perdendo seus bens). Hoje, já são estrelas da companhia ostentando o escudo do REFIS, símbolo nacional do calote organizado. Mas imobiliária carece de uma estrutura mínima para que os imóveis sejam transformados em recursos para o RGPS ou no mínimo que sejam adequadamente atualizados na ampliação e manutenção de rede de atendimento do INSS.
Nós da ANASPS que conhecemos a Previdência Social Pública estamos inteiramente a disposição para contribuir com os que se dispuserem a melhora-la.

(*) Paulo César Régis de Souza Vice - Presidente Executivo da Associação Nacional dos Servidores da Previdência e da Seguridade Social-ANASPS.

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