quarta-feira, 2 de julho de 2014

Reabilitação profissional: o paradigma do CIAPAT


 
Por Alexandre Barreto Lisboa (*)
A Diretoria Executiva da ANASPS, representada por mim e pelo Vice Presidente Executivo, Paulo César Régis de Souza, realizou nos meses de maio e junho duas visitas técnicas ao Centro Iberoamericano de Autonomia Pessoal e Ajudas Técnicas –CIAPAT, da Organização Iberoamericana de Seguridade Social- OISS, localizado em Buenos Aires.

A OISS é um organismo multilateral que acompanha de perto e apoia os processos produtivos dos setores público e privado, nas áreas de saúde, previdência, assistência social e riscos do trabalho.

Chamou-nos a atenção o trabalho desenvolvido pelo CIAPAT, com base em um novo paradigma de favorecer a autonomia pessoal, a acessibilidade, usos das ajudas técnicas de apoio para idosos, pessoas com deficiência ou em situação de dependência permanente ou transitória. É a tão sonhada reinserção e inclusão social.

Concluímos que o Brasil necessita ter um CIAPAT.  A ANASPS, filiada à OISS, assumiu o compromisso de implantar no país um centro nos mesmos moldes, integrando o espectro da rede CIAPAT, iniciada em Madrid com o CEAPAT, há 25 anos, e com o CIAPAT, de Buenos Aires, há quatro.

O Brasil, desde os antigos institutos e com o INPS, desenvolveu ao longo                    de 70 anos um eficiente sistema de atenção aos segurados da Previdência, compreendendo o seguro de acidente, o auxilio doença e a reabilitação profissional. Lamentavelmente, na década de 90, após a Constituição de 1988; que levou para o Sistema Único de Saúde-SUS as ações de assistência médica e de reabilitação física, que anteriormente                                                                                                                                                                                                                                                                       eram desenvolvidas pelos Centros e Núcleos de Reabilitação Profissional, CRPs e NRPs, do INPS, hoje INSS. O SUS não assumiu com eficiência o que lhe cabia e os trabalhadores ficaram órfãos.

O Brasil dispôs de belo e modelar programa de atenção à saúde do trabalhador, nas décadas de 60/80, dispondo o INPS de equipes multiprofissionais, nos CPRs e NRPs, cerca de 60 unidades, onde o trabalhador que se acidentasse ou tivesse qualquer problema de acessibilidade ou dificuldade para trabalhar passava por um processo de avaliação, reabilitação profissional e recolocação ou readaptação em atividade compatível. Em 1980, um presidente do INSS visitou a mais importante Fundação Mútua de Acidentes do Trabalho e Doenças Profissionais-FREMAP, em Madrid, e seu diretor lhe confessou que tudo que sabia aprendera do CRP de São Paulo, em 1975, quando lá estagiou durante um ano.

Lamentavelmente, houve um descompasso entre a reabilitação física, a profissional e a social, com pesados ônus para o INSS, que paga benefícios, com as empresas e os trabalhadores.

Nossas visitas ao CIAPAT, em Buenos Aires, articuladas pelo diretor da OISS para o Cone Sul, Dr. Carlos Garavelli, com o apoio do representante da OISS no Brasil, Dr. Baldur Schubert, levou-nos a identificar a importância de vir a ANASPS a assumir o compromisso de implantar um CIAPAT no Brasil, em Brasília, mesmo porque nosso país, com sua dimensão continental, sua população de 210 milhões de habitantes e uma População Economicamente Ativa de mais de 110 milhões, com uma estimativa de que 15% padeçam de algum grau de deficiência, necessita de ser vanguarda no processo de apoio e de ajudas técnicas e tecnologias da reabilitação com vistas a contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.

Um projeto simples, mas de uma importância social incalculável.

O CIAPAT Brasil, na trilha da OISS, oferecerá, entre outros, os seguintes serviços: um catálogo “on line” de produtos de apoio disponíveis no mercado, de origem nacional ou importados; um “show room” de produtos de apoio; informação em ajudas técnicas para a vida diária, a mobilidade e a acessibilidade pessoal, a comunicação, a moradia, o trabalho e o lazer; biblioteca presencial e virtual, especializada em legislação e normas técnicas; difusão de conhecimentos sobre arquitetura, urbanismo, transportes, tráfego voltadas para as pessoas com necessidades; realização de eventos, oficinas, fóruns e simpósios para socialização da informação. Todos esses serviços serão disponibilizados sem ônus para as empresas e os trabalhadores. O papel da ANASPS será de reunir numa unidade física tudo acima relacionado.

O CIAPAT/Brasil fará um chamamento aos governos federal, estaduais e municipais para que as intervenções relativas ao apoio e a ajuda às pessoas sejam efetivas e que haja mais vontade política de agir. Chega de discursos.

Por sermos uma instituição previdenciária, a ANASPS contribuirá para que seja implementado o novo modelo de reabilitação profissional que assegurará ao INSS um papel proativo, beneficiando os 60 milhões de segurados da previdência social.

Convocaremos empresários e trabalhadores, fundações, institutos, entidades de pesquisas e tecnologia, universidades, as instituições do Sistema S, enfim o que Brasil que dá certo, para se engajar neste projeto que é de acolhimento e de promoção da dignidade humana.

Vamos juntar as mãos e ajudar. Amanhã seremos nós a usufruir desses benefícios e serviços.


(*) Alexandre Barreto Lisboa é Presidente Executivo da Associação Nacional dos Servidores da Previdência e da Seguridade Social-ANASPS.

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