Vão se os anéis e ficam os dedos
Por Paulo César Régis de Souza (*) |
Não foi em vão a passagem do ministro Joaquim
Levy pelo governo e pelo Ministério da Fazenda. Se de um lado, se deu mal na
política fiscal , tentou acertar na
PrevidÊncia Social especialmente por sua visão fiscalista. Surpreendeu-se com o
déficit de 2014, criticou a desoneração atabalhoada (vetor principal do
déficit), levou um puxão de orelha,
tentou acabar com ela, não conseguiu.
Logo a contribuição sobre a folha de salários prevalecerá, como prevaleceu por
90 anos!
Devo reconhecer que nunca um ministro da
Fazenda olhou para os desajustes da Previdência. Metia a mão nos efeitos.mas não olhava as
causas. O tamanho do déficit de 14 , de 15 e 16, acendeu a luz vermelha na
Fazenda. Por sua vez, os ministros da
Previdência , mesmo cientes e conhecedores das causas e dos efeitos dos
desajustes, sempre temeram por as cartas na mesa. Não eram ouvidos e
respeitados. Os desajustes que foram sobejamente esquadrinhados pelo Tribunal
de Contas da União que em diversos relatórios
clamou por ajustes urgentes no
financiamento, nas questões estruturais, governança administrativa e
benefícios.
Temos
pontos divergentes e convergentes com o sr. Joaquim Levy e com o “Ministério da
Fazenda Social”.
Já agora temos razões para acreditarmos no
enfraquecimento da Previdência Social com a fusão com o Ministério do Trabalho.
Nossa causa – de proteção social - tem mais de
um século e a Previdencia no Brasil
quase isso – 93 anos – não está perdida. Sofremos um segundo revés. Temos o
passado , o presente e futuro para administrar. Lidamos com pessoas, seu sonhos
e esperanças. A Previdencia é uma exigência das sociedades contemporâneas , por que tem compromisso com o futuro das civilizações.
Os
pontos divergentes;
a) Manteve
a receita previdenciária na Fazenda, não enxergando que é o principal problema
da Previdência. Se desconhece na face da terra uma organização que não
administre sua receita que é própria e de destinação definida. Só uma razão
para a Receita Previdenciária continuar na Fazenda: é de fonte , como a Receita
Federal, e a 2ª. maior receita da República. A Receita Federal não sabe
trabalhar com receita declaratória.
b) Manteve
a receita previdenciária como instrumento da política fiscal, (eXemplo ostensivo
é desoneração contributiva) esquecendo que a contribuição previdenciária não é
imposto.
c) Ignorou
o Ministério da Previdencia Social, como formulador da política de Previdencia
Social, seguindo o “script” de seus antecessores.
d) Vetou
o fator previdenciário, duas vezes
derrubado pelo Congresso, duas vezes vetado pelo Presidente Lula e pela
Presidenta Dilma e o Congresso manteve os vetos por duas vezes! Estranho Congresso
que cospe nele mesmo! Além do que avalizou
o novo fator previdenciário.
e) Vetou
o reajuste pela inflação para quem recebe beneficio acima do mínimo.
f) Vetou
a desaposentação, mantendo-se a contribuição do aposentado do RGPS o que é uma
iniquidade
g) Defendeu
a inclusão da receita previdenciária na Desvinculação de Receitas da União-DRU,
elevando de 20% para 30% até 2.026;
h) Detonou,
por influencia nefasta do ministro Nelson Barboza, o abono de permanência em
serviço, que segura servidores mal remunerados na administração pública, mas
com vasta expertise, enquanto não há concursos para reposição de quadros.Alem
do que os que estão com abono se aposentarem perdem 70% de seu rendimento!
Os
pontos convergentes:
a) Ajustes
nas pensões por morte, dos Regime Geral
de Previdencia Soial e dos Regimes Próprios. No RGPS deu um belo tranco nos
casamentos ‘velhinhos com menininhas”, pondo fim a uma generosidade que leva um
beneficio a durar 100 anos;
b) Ajustes
na concessão do auxilio doença. Só não foi mais longe, porque foi barrado pelo
Congresso. Há espaço para se ir mais além, liquidando coma terceirização da
perícia médica e com a judicialização do auxilio doença. Tem que ter perito médico no
CPRS e Juntas bem como na subprocuradorias do INSS.
c) Detonou
a desoneração desordenada, responsável pelo vultoso déficit da previdência em
2014 e aterrorizante em 2015; introduziu uma desoneração seletiva que é quase
um desembarque da experiência maluca do ministro Nelson Barbosa.
d) Abraçou
a causa da idade mínima para homens e mulheres; elevando-se o tempo de contribuição
de homens e mulheres, ingressando no complexo tema da demografia e do
envelhecimento.
e) Abraçou
a causa do fim da permanência dos trabalhadores rurais que não contribuem no RGPS, podendo ser
atrelados à LOAS ou a outro programa, sem se mexer na inclusão social.
f) Foi
ao Supremo pedir em vão ao ministro Levandowski ajuda para melhorar na gestão
de cobrança da divida ativa de 1,5
trilhão de reais. Dos100 milhões de processos que inundam a justiça 30% - seja
30 milhões – dizem respeito a divida ativa. A Previdencia tem 300 bihões de
reais (um quinto) na dívida ativa.
Os fiscalistas dificilmente
leem meus artigos , minhas considerações, minhas propostas para Previdencia Social. Eles só tem
disponibilidade de tempo para exaltar seus umbigos, cevados em bons vinhos e
cervejas experimentais.
Mas eu leio os deles.
Eu e o TCU clamamos há tempos
uma solução para a questão dos rurais. Dizer que terão perdas é uma falácia.
Não terão.
Os adeptos da “inclusão
previencidiária” se esquecem que foi a ditadura militar que criou o FUNRURAL em
nome do que na época se chamava “universalização da Previdência”.
Se se aposentam NO RGPS
pela exceção da regra, sem documentaçãoou documentação incompleta, e não pela regra poderiam se aposentar pela
LOAS. São 9,2 milhões e 99% deles recebem o mínimo.
Os fiscalistas começam, a se
preocupar com 4,5 milhões de pessoas que recebem o BPC , Beneficio de Prestação
Continuada.
Desagregando os rurais, dos
18,9 milhões de beneficiarios urbanos
poderão voltar a respirar muito embora 9,0 milhões deles recebam o salario
mínimo e apenas 175 mil recebam mais de cinco salários mínimos..
(*) Paulo Sergio Regis de
Souza é Vice Presidente Executivo a Associação Nacional dos Servidores da
Previdência e da Seguriade Social ANASPS.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário