quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Educação superior: o Brasil de costas para suas futuras gerações

Por Paulo César Régis de Souza (*)

Em dois artigos que escrevi e publiquei “Máxima: para ser Presidente do Brasil não precisa ser formado” e “O Brasil precisa criar mais faculdades” mostrei as quantas anda a nossa educação superior. Mais por intuição e por vivência me arvorei em provar que há duas vezes mais jovens fora das universidades do que dentro, seja, dois de cada três jovens entre 18 e 24 anos estão fora da Universidade. O que isto representa para o país? O Brasil de costas para suas futuras gerações.  Mais do que isso, são analfabetos funcionais, sabem ler, mas não entendem o que leem, terão grandes dificuldades de inserção e de inclusão social, de conseguir emprego, obter renda, casar, ter filhos, etc.
                                         
Clamei que o Brasil deve deflagrar uma guerra contra o atraso na educação. Afirmei que o Brasil precisa criar uma faculdade por dia para superar o atraso, fruto de gestões ineptas e corruptas no MEC. Alias, nós da ANASPS estamos dispostos a criar até mais de uma faculdade, se nos deixarem. Queremos transformar nosso discurso em prática. Sabemos que tudo é feito pelo MEC para impedir que sejam cortadas as amarras que impedem o país a dar saltos de qualidade na educação.

O que assistimos em relação aos advogados e aos médicos é o MEC afrontando o país e fazendo o Brasil andar pra trás. Somos dirigidos por uma elite incapaz, com visão deturpada e querendo promover o voo da galinha!  Trocar o mérito, o saber, a cultura, a ciência, por quotas, em nome de uma inclusão educacional é insensatez. Instituir a aprovação automática no nível médio é uma catástrofe. Misturar educação com política é um desastre. Discriminar crianças em nome de renda e cor da pele é semear a luta de classe.

Um debate sobre a educação superior realizado no Senado mostrou que o quadro cor rosa, depois de 10 anos de poder, na realidade é turvo. A comparação é tão feia quanto à situação.

- Entre 2000 e 2010, foi registrado um crescimento de 110% no número de vagas nos cursos superiores. No entanto, apenas 16% dos jovens entre 18 e 24 anos estão matriculados em um curso de graduação.

- Nos últimos 10 anos, a meta de colocar 33% de jovens entre 18 e 14 anos no ensino superior, não saiu do lugar. Agora, o mesmo governo quer que a meta seja alcançada em 2023! Arre!

- Hoje estão matriculados 6.379.299 alunos, nas universidades públicas e privadas. No mínimo, deveriam estar matriculados 18,0 milhões. Seja, deixamos 12 milhões sem futuro, sem esperanças, duas gerações perdidas.

- O falso discurso da eficiência pública se esfacela no fato de que 74% dos 6,3 milhões, seja 4,6 milhões, são alunos matriculados em escolas privadas. Nas escolas públicas, apenas 2,7 milhões.

- O setor público costuma transformar sua incompetência em PIB. Para oferecer três milhões de matriculas, com 40% das vagas do ensino superior, o MEC quer 10% dos recursos do PIB na educação superior.

- O mesmo setor público agora vê chifre em cabeça de cavalo argumentando que 1 milhão de alunos recebendo FIES , financiamento, o governo estaria priorizando o setor privado em detrimento do setor público. Quanta indigência.

- Se os grupos Anhanguera e Kroton, em franca expansão no país, apesar do MEC, têm quase 50% das matrículas privadas, o MEC deveria agradecê-los e homenageá-los, pois estão prestando inestimáveis serviços às futuras gerações, atraindo os que querem estudar e podem pagar por seus estudos aqui ou no exterior, suprindo a inércia do Estado.

- Destaque-se que os cursinhos do grupo “me engana que eu gosto” estão entulhados com cerca de 5 milhões de matrículas. Há anos que se mantém superlotados acolhendo a massa do nível médio que disputará vaga na faculdade pública. Famílias se sacrificam para que seus filhos cheguem a Universidade, se endividam, mas sabem que terão que superar a corrida de obstáculos: 1000 alunos por uma vaga e que a vaga tem destinação para cotas raciais e cotas de escolas públicas. Dois filtros, duas vilanias!

A expansão pública foi bem mais modesta, passou a atender 272 municípios contra 114, em 10 anos, isto num total de 5.600 municípios e, mais as 100 unidades criadas, incluindo campus, apenas 43 têm bibliotecas, 33 tem moradias estudantis e 61 restaurantes universitários. Os desafios são bem maiores que o discurso de melhorar a qualidade de vida e reduzir desigualdades.

Com estes novos dados, que passaram pelo Senado, em direção ao cesto de lixo, espero que as pessoas acordem para a cruel realidade da nossa educação superior.

Insisto: nós da ANASPS queremos criar escolas de educação superior para formação, capacitação, treinamento de pessoal na área de Previdência Social. O país tem 90 anos de Previdência, com um patrimônio imaterial que se inter-relaciona com Direito, Economia, Planejamento, Administração e Gestão, Estatística e Atuária, Tecnologia e Informática. A cultura previdenciária há anos pede por esta escola que o MEC barra.

(*) Paulo César Régis de Souza é Vice- Presidente da Associação Nacional dos Servidores da  Previdência e da Seguridade Social.

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