sexta-feira, 12 de julho de 2013

A velha ordem e a nova esperança

Formato A4: PDF WEB
Chamada de capa
Por Paulo César Régis de Souza (*)
Não podemos ficar calados e omissos, alheios ou distanciados, diante do que vimos nos últimos tempos em 438 cidades brasileiras: o povo nas ruas, em históricas e memoráveis manifestações, em que o excesso, dos supostos vândalos, baderneiros e arruaceiros, não empanou nem tirou o brilho. Bem que a manipulação tentou, mas não conseguiu! A revolta aparentemente dos 10 ou 20 centavos nas passagens escondia mais do que levar governos às cordas e ao nocaute contra o aumento das tarifas. Eles foram. Pensaram que a onda passaria e o Brasil da velha ordem continuaria dando olé de indiferença ao que se passa na educação, saúde, segurança, transportes, estradas, metrôs, Copa do Mundo, seca, corrupção.
Nos meses que precederam as manifestações, o povo era pautado todos os dias e noites pelo crack devastador, escolas sem aulas, hospitais sem leitos, menores assassinos, violências de todos os tipos, policiais envolvidos com o crime organizado, dentistas queimados, políticos defendendo seus interesses escusos, passeatas e protestos gays. Um debate sufocante e anestesiante.
Quando o monstro despertou, fiquei atordoado. Ninguém previu. Todos os analistas, colunistas, blogueiros e adivinhos falharam. Surgiram mil explicações e justificativas.
Mas nada, nada, que traduzisse: verás que um filho teu não foge à luta.
O que mais me intrigou é que a geração das manifestações é de 90 para cá. Tem 23 anos no máximo. Não sabe o que se passou no País nas décadas de 50, 60, 70 e 80. Ninguém viu Mané Garrincha e Pelé jogar, não sabe o que houve em 64 a 85 no País. Não participou das manifestações contra a ditadura e pela abertura.
Não viu a aventura de ascensão e queda de Collor, no vácuo de uma corrupção glamorosa.
O que essa geração viu foram políticos de quinta categoria, agrupados em dezenas de legendas de aluguel, esquartejando os recursos públicos, em emendas suspeitas, para obras também suspeitas etc.
Má qualidade na gestão pública com quase 40 ministérios, milhares de comissionados e terceirizados, o BNDES transformado em BNDEX. Muita indecência e nada de moralidade.
A Anasps tem apenas 21 anos. Somos contemporâneos dessa geração. Na nossa área, assistimos uma brusca mudança do Regime Geral de Previdência Social-RGPS que assegurava um mínimo de 80% do último salário para o trabalhador que se aposentava e foi levada a assegurar basicamente dois salários mínimos.
Espero que a nova esperança fortaleça o RGPS e faça com a que a Previdência Social se recupere para que as futuras gerações, estas que encheram as ruas, não sejam submetidas aos vexames das gerações atuais, as de seus pais, que ainda esperam a tábua de salvação do fim do fator previdenciário, a instituição da desaposentação para salvaguardar seu futuro, reforma do financiamento da Previdência, para que haja recursos para o pagamento de benefícios urbanos com base nas suas contribuições, sem achatamentos fortuitos.

(*) Paulo César Regis de Souza é vice-presidente executivo da Associação Nacional dos Servidores da Previdência e da Seguridade Social (Anasps)


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