TCU,
Espada e Guilhotina
Por Paulo César Régis de Souza (*) |
Novamente o egrégio Tribunal de Contas da União assestou
suas baterias contra as fragilidades do INSS, batendo firme na concessão dos
benefícios de aposentadoria por idade e tempo de contribuição, denunciando
dados cadastrais incompletos ou inconsistentes que resultaram em indícios de
pagamentos de forma indevida e irregular.
No corte que fez, o TCU pegou 13,1 milhões de
benefícios que representaram 45% dos
que foram pagos da maciça de junho de 2012 que comprometeram recursos de R$
11,9 bilhões e identificou risco de fraude na concessão. Seja, tocou fogo no
paiol e não chamou os bombeiros.
Não temos nada contra as auditorias do TCU, muito pelo
contrário, elas são necessárias no contexto do controle externo que aliadas ao
controle interno do INSS são poderosos instrumentos no monitoramento na
concessão e manutenção dos benefícios.
Apenas, insistimos mais vez e clamamos neste deserto de
ideias que o sempre egrégio TCU deveria também, “en passant”, como dizem os
franceses, dá uma espiadela no que se passa na área do “queijo suíço” da receita
previdenciária, ora sob a guarda da Receita Federal do Brasil (dívida
administrativa) e na sub guarda da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional
(divida ativa). Nem precisaria uma auditoria rigorosa, densa, pesada, iguais as
com que são premiadas a área de benefícios, simplesmente uma vista d’olhos
detectaria uma série de situações-problema que degradam e ameaçam o
financiamento dos ditos benefícios, colocando em risco a própria Previdência
Social pública.
Os achados da auditoria do TCU são recorrentes, no sentido
de que sempre existiram, o INSS tem conhecimento e tenta superar e inibir as fraudes,
travando uma luta permanente contra os fraudadores. Houve uma época em que a
listagem das fraudes continha mais de 200 ocorrências possíveis, com 200 tons
de cinza. Ressalte-se que os sistemas
corporativos reduziram significativamente os golpes e as possibilidades. As
forças tarefas do INSS, Policia Federal e Ministério Público que operam à
exaustão no INSS (ah! Se operassem na Receita Federal!) há anos vasculham,
identificam e punem fraudadores de benefícios, enquanto “caloteiros” da Receita
financiam políticos...
Os programas de
cessação dos benefícios do INSS são uma prova da governança administrativa no
combate frontal à fraude. Todos os meses, cerca de 500 mil benefícios, de
prestação única ou continuada, na média, são retirados da folha de pagamentos,
com vultosa economia de R$ 450 milhões/mês para o caixa do INSS.
A engenharia do Sistema de Óbitos-SISOBI, para combater
fraudes, (retirando os mortos da folha dos vivos) levou anos para ser
implantado e está funcionando.
Os achados do TCU merecem ser investigados e corrigidos:
acumulação indevida de benefícios, aposentadorias concedidas com erro
cadastral, utilização do mesmo Número de Identificação do Trabalho-NIT ou
Cadastro de Pessoa Física –CPF por pessoas diferentes , inconsistências entre
informações de bancos de dados oficiais, aposentadorias por idade incompatível.
O TCU mandou ao INSS um caderno de encargos para que sejam feitas minuciosas
revisões e averiguações nas concessões em 180 dias para proceder os ajustes e
correções necessárias.
Como há outra auditoria feita pelo TCU nas pensões por morte
e com prazo de 180 dias para atendimento das demandas, resta saber como poderá
o INSS atende-las, pois o próprio TCU, noutra auditoria, identificou a escassez
de servidores, especialmente nas atividades fins. Isto realça a necessidade de ser,
prioritariamente, encontrada uma solução para a gestão de pessoas. A força de
trabalho do INSS está comprometida. Há
10,0 mil servidores trabalhando recebendo abono de permanência. Outros 7,0 mil
estão a caminho. Só isto põe em cheque o futuro do INSS, nos próximos quatro
anos. Eles detêm a expertise e a cultura da Casa. Mais grave: o INSS tem 17.600
cargos vagos e que por capricho e má fé do Ministério do Planejamento não são
preenchidos. Há gargalos especialmente na ponta nas unidades que atendem o
segurado, que impedem que os servidores sejam desviados para determinadas missões
operacionais, sob pena de parar a
instituição.
Quem está fora do INSS não sabe e nem tem ideia do
conjunto de dificuldades que chegam à mesa dos servidores, tais como; alterações
legais semanais (o que valia ontem não vale hoje); sistemas eletrônicos, fora
do ar quase sempre; defasados e sem travas que inibam a fraude e que não falam
com outros sistemas (Receita Federal, RAIS, PIS, PSEP, CNIS, CAGED, Bolsa
Família, Seguro Desemprego) (dialogo de surdo-mudo); que não ajudam na
identificação do próprio segurado. Os servidores têm consciência dos direitos
dos segurados e do reconhecimento automático desses direitos mas as
fragilidades dos sistemas colocam uma espada na cabeça e uma guilhotina no
pescoço do servidor, que acaba trabalhando sob pressão e estresse.
Um simples exemplo: se os sistemas do INSS falassem com
outros sistemas sumiram 90% das “irregularidades” apontadas pelo TCU. Seja: é preciso evoluir para plataformas
tecnológicas inteligentes que se interliguem e que evitem duplicidade de dados
que suscitam dúvidas e suspeitas de fraudes para a limpeza do cadastro de
benefícios da Previdência Social A ideia de um cadastro único de ficha limpa
para benefícios previdenciários e assistenciais ainda está distante, mas é
necessário e inadiável. Depende de vontade política.
(*) Paulo César Régis de Souza é Vice - Presidente Executivo
da Associação Nacional dos Servidores da Previdência e da Seguridade
Social-ANASPS.
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