O que fazer para atender o clamor da Presidente Dilma
Por Paulo César Régis de Souza (*) |
No final de 2013, fomos brindados por uma das falas da nossa
Presidenta que voltou a fazer quase suplicantes apelos, para que os servidores
públicos (se dirigindo certamente aos municipais, estaduais e federais) se dediquem
mais ao trabalho, se engajem mais, se comprometam mais, se empenhem mais para
que os serviços públicos tenham qualidade e ofereçam segurança e tranquilidade
aos usuários.
A gente ouve a Presidenta, com aquela candura de uma senhora
bem comportada, e acredita na sua boa fé e na sua sinceridade. Pode até embutir
uma pequena dose de demagogia, mas o brasileiro comum acaba por entender que a
indignação dela, como a de todos os demais brasileiros, é justa, correta,
oportuna.
O brasileiro comum é tão crédulo que acaba acreditando que o
problema dos lixões é dos municípios, que a briga dos traficantes e milicianos
com a polícia é dos estados, que as multidões abraçadas ao trafico e às drogas
é invenção da mídia, que a roubalheira é coisa da televisão e que passa longe
do Senado, da Câmara e do Executivo.
Fiquei preocupado com o gesto da nossa Presidenta, que
atacou os efeitos sem mirar as causas.
Nos mostrou, com
muita emoção e simpatia, uma página onírica perfeitamente ajustada à cruel
realidade de um país que está sendo sucateado por péssimos gestores, que não têm compromissos com o Estado e com a
cidadania. Gestores eleitos pelo povo, utilizando expedientes espúrios e que se
sentem comprometidos apenas com seus interesses. As aspirações populares vão para as calendas,
para o espaço, são abandonadas e esquecidas.
É tão grande a volúpia e o apego que une a corrupção e a
impunidade de prefeitos, governadores, deputados federais e estaduais,
senadores e vereadores, que os valores nacionais foram significativamente
alterados.
É evidente que a Presidenta sabe que os servidores não vão
resolver a tonelada dos problemas existentes e por ela mencionados.
Os servidores, como o povo, sofrem e acabam quase sempre pagando
com a vida o seu sacrifício. Veja quantas dezenas de policiais, moradores
ocultos de favelas com suas famílias, foram assassinados nos últimos 12 meses.
Muitos deles trabalham sem coletes à prova de bala, sem treinamento adequado,
sem equipamentos, sem informação, sem lideres capacitados. Outros servidores
levam porrada nas filas de atendimento. Os dos hospitais torcem para não se
transformar em doentes e dormirem nas macas que inundam os corredores.
No fundo, todos nós, gostaríamos de atender aos apelos da
nossa Presidenta, que caminha para manter o seu mandato, e gostaríamos também de
vê-la comandando uma reforma que diminuísse o tamanho do Estado e aumentasse
sua eficiência. Muitos ministérios dão uma ideia de caos de difícil
gestão.
Não sei se ela quando falou o que falou estava pensando em
nos surpreender com a tese do mais cidadão e menos governo. Pode ser que sim.
Para um país com 200 milhões de habitantes, 6 milhões em
universidades quando deveria ter 60 milhões, é um desperdício irrecuperável que
se pratica contra a cidadania; milhões
sem água e esgoto, milhões sem moradia, 25 milhões na fronteira da
miséria, 20 milhões de jovens sem esperanças. Um país que discute bolsas para
isso e para aquilo, cotas para isso e para aquilo, e que deixa as questões de
futuro fora da agenda, francamente, me preocupo.
A Presidenta talvez não saiba que um dos homens sérios deste
pais, o senador Pimentel, teve a feliz ideia de implantar uma agência da
Previdência Social nas cidades com mais de 20 mil habitantes. A Previdência envolve
quase 100 milhões de brasileiros ativos e inativos , 40 milhões aposentados e pensionistas e 50 milhões
trabalhando, públicos e privados. A solução era boníssima. Seriam construídas
700 agências. Pois, passados quatro anos, nem a metade foi implantada e das que
foram implantadas, muitas não tem servidores.
Presidenta falta servidores nas novas agências. Isto com o
governo federal mantendo e pagando nas empresas públicas, fundações,
administração direta e indireta, 1 milhão de terceirizados . A terceirização é
uma “commodity” muito em voga em países emergentes, pois serve para muita gente
ganhar dinheiro.
Nestes dez anos de governos do PT a nossa política de
recursos humanos avançou muito pouco ou quase nada. A “herança maldita” do
tucanato foi mantida no principal, isto é na remuneração dos servidores.
Continuaram as gratificações de produtividade, que não medem a produtividade de
nada, com coisa nenhuma e nem a inflação foi reposta. Para complicar dividiram os servidores em
duas classes. Os de 1ª. classe, passaram a ter direito a receber subsídios,
incorporando as gratificações. Os de 2ª. classe, passaram a ser tratados a pão
e água, sem incorporarem nada quando se aposentam . Uma desvalorização total.
Presidenta, o mais grave é que os brasileiros pobres e
humildes que participavam do serviço público foram colocadas na lista negra da
Inquisição e banidos do serviço público, substituídos por terceirizados.
Paulo César Regis de Souza é Vice – Presidente Executivo da
Associação Nacional dos Servidores da Previdência e da Seguridade Social ANASPS
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