Em termos de Previdência Social,
perdemos o ano de 2013
Por Paulo César Regis de Souza (*) |
Há quem afirme que o ano de 2013
foi mais um ano perdido na Previdência Social brasileira. Concordo.
Perdemos a chance de fazer uma
grande reforma especialmente no financiamento.
Esta é prioritária, urgente, pois
a fonte está secando e não serão os recursos da Seguridade Social que vão por a
Previdência em pé, de novo. Reconheçamos que esses já foram significativos e
volumosos para fechar as contas do INSS no azul.
Novos refis, mais renúncias
contributivas e mais desonerações contributivas ampliaram o rombo da
Previdência, sem falar que a sonegação, evasão, elisão, brechas legais, baixa
recuperação de créditos administrativos e fiscais e baixa qualidade de gestão
na Receita, o aumento crescente e assustador da despesa com os rurais, que não
contribuíram ou que pouco contribuem, comprometeram ainda mais a capacidade da
Previdência de responder as expectativas do bravo povo brasileiro.
A detecção é a seguinte: 70% dos
benefícios da Previdência são de salário mínimo e os benefícios concedidos e
mantidos, em 2013, não chegaram, em termos de valor médio, a dois salários
mínimos. Há dez anos, 4.5 milhões de urbanos recebiam o mínimo. Hoje são 8,0
milhões. Preocupa. Isto não é apenas
ruim, é péssimo. Homens e mulheres que contribuíram por 35 anos ou chegaram ao
fim do ciclo produtivo da vida foram mandados para casa com menos de 50% do que
ganhavam quando trabalhando. A Previdência que foi uma esperança de uma velhice
tranquila se transformou num pesadelo.
Escapou-nos a chance de, numa
reforma da Previdência, de trazer o Seguro Desemprego e a Previdência Aberta
dos planos de bancos e seguradoras para o Ministério da Previdência.
Passou-nos a oportunidade de
implantar de vez a Previdência Direta, com o INSS vendendo planos diferenciados,
com taxas mais baratas de administração-e carregamento, como o Tesouro Direto,
que vende títulos, mas garantidos pelo Tesouro Nacional. Mais: os planos poderão
também ser vendidos pela rede bancária.
Não acabamos com o fator
previdenciário que foi imposto pelo FMI com a desculpa esfarrapada de que
reduziria o déficit da Previdência. Não reduziu coisa nenhuma, apenas achatou, retardou
a concessão de benefícios. Ministros disseram que produziu uma economia de R$
40 a 80 bilhões, quando na verdade, isto foi surrupiado da massa trabalhadora
que contribuiu para ter uma velhice protegida!
A idade mínima não foi implantada
para as aposentadorias do Regime Geral de Previdência Social-RGPS tal como
existe no setor público. O Brasil continuou sendo junto com outros países,
inexpressivos, um dos poucos que não tem idade mínima. Essa seria um mecanismo
compensatório, parcial, para o fim do fator previdenciário.
Perdemos a chance de corrigir as
famigeradas distorções nas pensões, reconhecidas por gregos e troianos,
paulistas e potiguares. Apesar de serem de valor baixo monetário, no máximo
dois salários mínimos, pessoas que não trabalharam e não contribuíram e que
casaram com um idoso, por exemplo, levam um beneficio a durar 80 anos (40 anos
do instituidor e 40 da beneficiária) , sem nenhuma sustentação atuarial.
Não instituímos a desaposentação,
corrigindo duas hediondas injustiças: a primeira que leva o aposentado a voltar
a trabalhar e a contribuir, sem expectativa de um novo beneficio ou de melhorar
o seu benefício; a segunda, violação do princípio universal de que não pode
existir contribuição sem contrapartida.
Antes a Previdência, transformava a contribuição em pecúlio que era
resgatado a qualquer tempo pelo aposentado, quando se retirava de vez. Hoje, a contribuição
é apropriada pela Previdência, de forma imoral e indecente, ainda que legal.
Não revogamos a contribuição dos
inativos públicos da União, Estados e municípios. Também é imoral e indecente,
ainda que legal. A contribuição corresponde a um pequeno percentual da despesa,
o que é praticamente nula.
Não houve velocidade na
implantação do Plano de Expansão do INSS, para se instalar em cidades com mais
de 20 mil habitantes. O plano previa 720 novas agencias. Não chegamos a 300,
menos da metade. Muitas das agencias
inauguradas têm um servidor ou nenhum, funcionando precariamente, o que embota
e desqualifica um Plano sério e necessário a universalização do atendimento.
Faltou a reestruturação da
carreira dos previdenciários, de fortalecer o quadro de recursos humanos, hoje
metade do que era há 20 anos. Claro que a tecnologia suportou parte das
transformações com informatização do atendimento. Os 30 mil servidores do INSS
tem alta produtividade. Há escassez de pessoas, muitos servidores não se
aposentam porque perderiam até 40% de sua renda em média de 6 mil reais.
Perdemos os anéis mas não perdemos
os dedos. O INSS segue sendo a maior seguradora da América Latina, com 51
milhões de contribuintes e 31 milhões de beneficiários. Em 3.773 dos 5.561
municípios os pagamentos do INSS superam o Fundo de Participação dos
Municípios.
(*) Paulo César Regis de Souza é
Vice - Presidente Executivo da Associação Nacional dos Servidores da Previdência
e da Seguridade Social-ANASPS
Nenhum comentário:
Postar um comentário