A
questão das cotas nas universidades e no serviço público
Por Paulo César Regis de Souza (*) |
São
grandes as mudanças que estão ocorrendo na administração pública brasileira por
força de ajustes verticais na sociedade, sem discussão, mas com imposição unilateral;
Joga-se para as arquibancadas, na caça ao voto e na manutenção do poder. Não é
assim que constrói uma nação e se molda um povo.
No
Brasil, as injustiças atingem todas as cores, pobres, remediados ou ricos. Não
apenas os negros.
Cotas
sociais é uma coisa justa, admissível, na forma de inclusão social, o que
corrige distorções e desigualdades, mas cotas raciais são injustas e agressivas.
Por mais justas e legítimas que sejam não vão corrigir os problemas que são estruturais
e seculares. Vão apenas agravar. Não encherão o serviço público e as
universidades de pessoas mais capacitadas, mais preparadas e atentas ao futuro
do país.
Não
vão qualificar o país para os desafios do milênio. Alguém escreveu que “O
governo fere os princípios da gestão do Estado, ao priorizar a entrada, na
máquina pública, de pessoas menos preparadas para exercer funções
importantes”. Concordo.
Refiro-me
principalmente ao regime de cotas impostas nos concursos públicos e às universidades
públicas, que poderão desfigurar e desfibrar o país.
Os
valores estão sendo subvertidos e nivelados na marra. Você não pode recrutar um
cientista nuclear ou um pesquisador de nanotecnologia por cor! O preceito seria
seu nível de conhecimento e de capacidade. Se ele os tiver, não será a cor que
lhe abrirá as portas.
O
principio constitucional, de que todos somos iguais perante a Lei está sendo
revogado, sub-repticiamente.
Vejam
o art. 5º da Constituição: “Art 5º - Todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza (...) (grifo nosso)”.
A
cota racial, queiram ou não queiram, é uma distinção, é uma violação do
princípio.
Mais:
o Inciso I do mesmo art. Diz: “I – homens e mulheres são iguais em direitos e
obrigações, nos termos desta Constituição”. Já não são.
A
Constituição Cidadã no seu Inciso VIII do art. 37 diz “VIII - A lei reservará
percentual de cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência
e definirá os critérios de sua admissão”.
Aí
se vislumbra a inclusão social, pois há portadores de deficiência altamente
capazes;
O
problema é que a demagogia, o paternalismo, o assistencialismo e o inclusivismo
histórico, trocaram o “percentual” da inclusão social já estabelecendo um
percentual para a inclusão racial, de cima pra baixo, de forma discriminatória
para as demais etnias que compõe nossa sociedade multirracial.
Já
não somos todos iguais perante a Lei.
Apenas
alguns são.
Outros
são mais iguais e superiores à Lei.
Revogou-se
também a lei universal do mérito e da competência, do esforço e da tenacidade,
da educação, da cultura e do conhecimento.
O
saber, a experiência e a vivência foram nivelados por baixo.
O
mundo não foi construído pelos ignorantes, pelos menos capazes, pelos
brutamontes, que nele habitam, mas pelos sábios, pelos que carregam no seu DNA
a vanguarda do conhecimento.
Se
as cotas são perversas, até hoje não vi nenhum protesto de nenhum grupo social,
político ou mesmo sindical contra a exclusão dos mais pobres do serviço público
federal, estadual e municipal, na trilha do “trade” da terceirização e da
quarteirização do trabalho.
Nenhuma entidade de trabalhadores, inclusive
do serviço público, salvo a ANASPS, protestou.
As entidades de direitos humanos foram rigorosamente omissas.
O
que houve?
O
governo, para não pagar aposentadorias integrais aos mais pobres, (brancos,
negros ou pardos/morenos) do setor público, que desempenhavam funções humildes,
mas necessárias e imprescindíveis, como Auxiliares de Serviços Gerais, determinou
que todos os serviços de limpeza, conservação, manutenção, transportes, copa, segurança, elevadores etc. fossem terceirizados e foram.
Dessa
forma, a toda a categoria foi parar nos cargos em extinção, que vão se reduzindo
na medida em que as pessoas vão morrendo.
Além
do que a terceirização de mão de obra se tornou grande negócio entre
empresários e governos, com a agravante que não pagam as contribuições sociais
e previdenciárias. Mas a terceirização de pobres dá muitos problemas para o
mercado, impondo o mercado a terceirização de outras áreas rentáveis como as
TI, Tecnologia da Informação, onde os mais pobres estão excluídos.
Os
concursos públicos ainda existem para servidores de nível médio e superior.
O
governo está driblando inchando a máquina pública com terceirizados e
temporários de nível fundamental, médio e superior, ao arrepio do que dispõe o
Inciso II do art. 37 da Constituição: “Art 37 - A investidura em cargo ou emprego
público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas
e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma
prevista em lei, ressalvada as nomeações para cargo em comissão declarado em
lei de livre nomeação e exoneração”.
Vejam
o caso do Senado Federal: tem 2.991 servidores concursados, 3.244 comissionados
(de livre nomeação e exoneração, eram apenas 370 em 2000) e 2 mil
terceirizados. É um baita escândalo.
O
mesmo acontece com o Executivo. Há dois anos não se tinha temporários (sem
concurso). Hoje, são milhares; Outros milhares são terceirizados. Isto sem
falar nos milhares de consultores de entidades multilaterais, como OPAS e PNUD.
Não
tenho dúvidas que o mercado e os interesses de gestão pública criarão
mecanismos para driblar as cotas. Entre o discurso e a prática há uma diferença
que tentar superar os desafios da sociedade.
(*)
Paulo César Regis de Souza é Vice - Presidente Executivo da Associação Nacional
dos Servidores a Previdência e da Seguridade Social-ANASPS
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