As contribuições da Seguridade Social anulam o déficit da
Previdência
Por Paulo César Régis de Souza (*) |
Há muito que gostaria de escrever um artigo sobre a receita
das contribuições da Seguridade Social, especialmente a COFINS e a CSLL,
transferidas para fechar o Caixa da Previdência Social.
Desde que a prática foi introduzida, na era FHC e confirmada
nas eras Lula e Dilma, o INSS não teve mais déficit no seu fluxo de caixa. Daí
porque se diz correntemente que a Previdência Social não tem déficit. Afinal os
recursos da Seguridade são para a Seguridade e a Previdência é dos pilares
dessa Seguridade.
Todos sabem, a Constituição proclama que contribuição previdenciária
não é imposto. Tem fins definidos. As demais contribuições, mesmo as da
Seguridade, como COFINS E CSLL, são impostos.
Mas nem todo mundo sabe que a Receita Previdenciária, aquela
da contribuição dos empregadores e trabalhadores, corresponde a 28,7% do que a
Receita Federal do Brasil arrecada. E arrecada mal. Poderia chegar a 35% ou
mesmo 40%, caso não houvesse sonegação, evasão, elisão, brechas legais, baixa
recuperação de créditos, refis, renúncias e desonerações, que são instrumentos
de política fiscal e não previdenciária. Se fosse bem administrada,
prescindiria dos recursos da COFINS e da CSLL para fechar as contas do
INSS.
O que ocorre é que os “enormes furos” da receita
previdenciária não permitem que a “receita própria” cubra as despesas próprias,
gerando o que a burocracia do INSS chama de “necessidade de financiamento”, o
que é, na prática, sinônimo de déficit.
Mais uma vez tomo a liberdade de explicar aos leitores que me
acompanham. Onde estão os “enormes furos”?:
- na sonegação, na evasão e na elisão contributiva
estimadas em 2013 em R$ 8 bilhões mensais;
- na baixíssima recuperação de créditos das dívidas
previdenciárias, administrativas e ativas (judiciais) agravadas pelos
sucessivos e múltiplos REFIS;
- nas renúncias contributivas que chegam a quase R$ 3
bilhões mensais;
-nas desonerações
contributivas que beiram a R$ 2 bilhões mensais;
- nas despesas com os benefícios rurais que são 95 %
maiores que as receitas;
Tomemos os dados da Receita Federal do Brasil de janeiro a
agosto (IPCA):
Receita da Previdência Social - R$ 209,2 bilhões, 28,68%
da receita total de R$ 729,6 bilhões;
Receita da COFINS, Contribuição para a Seguridade Social
– R$ 125,5 bilhões, 17,21%;
Receita da CSLL – Contribuição sobre o Lucro Líquido – R$
44,0 bilhões, 6,04%.
Tomemos os dados do INSS de janeiro a agosto (nominais):
Arrecadação Liquida R$ 189,2 bilhões
Pagamento de Benefícios do Regime Geral de Previdência
Social-RGPS – R$ 225.1 bilhões
Déficit do RGPS- R$ 35,9 bilhões
Para cobrir tal déficit do RGPS e pagar os Benefícios
Assistenciais, a União transferiu R$ 61,1 bilhões, sendo: Antecipação de Receita
– Tesouro Nacional – R$ 26,2 bilhões
Transferências da União – R$ 38, 9 bilhões
O INSS tem feito um grande esforço de comunicação mostrando
os sucessivos superávits da Previdência urbana, superávits esses anulados pelos
colossais déficits da Previdência rural que desde sua instituição, em 1971, é
custeada pelos urbanos, em detrimento de suas aspirações, sonhos e desejos.
Com efeito, os recursos da Seguridade Social cobrem as
despesas dos previdenciários rurais (que na realidade não são previdenciários,
pois não tiveram contribuição) e os assistenciais.
Não é sem razão que 70% dos benefícios pagos pelo INSS são
de um salário mínimo, incluindo 100% dos assistenciais e 100% dos rurais.
Não é sem razão que acabou o sonho de se contribuir sobre
dez salários e ter aposentadoria de 10 salários. O valor médio dos benefícios
na concessão não chega a dois mínimos e na manutenção não chegam a três mínimos.
Por isso mesmo é que tenho escrito que a Previdência Social
brasileira está virando um grande programa assistencial, de um salário mínimo,
ou uma Previdência chinesa.
Tenho a coragem de proclamar que nenhum trabalhador
brasileiro quer uma Previdência que não lhe assegure pelo menos 70 por cento do
que recebia quando em atividade, daí a necessidade de ser revogar o fator
previdenciário, instituir a idade mínima e a desaposentação ou o
restabelecimento do pecúlio, que é um instituto de cidadania.
Por enquanto, o RGPS não apresenta risco, mantidas as atuais
fontes de financiamento. Mas cada vez mais cresce a pressão para que a Previdência
volte a ser Previdência, seja, volte a ser esperança e não incerteza, segurança
e não desalento e assegure ao contribuinte urbano uma aposentadoria que lhe
permita sobreviver com dignidade.
Com a gestão da Receita Previdenciária no chão isto não será
possível. Há necessidade de um choque de gestão na Receita, para que a Previdência
volte a ser um sonho e não um pesadelo.
(*) Paulo César Regis de Souza, é Vice-presidente Executivo
da Associação Nacional dos Servidores da Previdência e da Seguridade Social
ANASPS.
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