Transparência ou violação de
privacidade
Por
Paulo César Regis de Souza (*)
A decisão de se divulgar os
salários dos servidores públicos, ativos e inativos, civis e militares,
aposentados e pensionistas não integra
qualquer lista de prioridade nacional. Parece-me mais jogo de cena para a
plateia do que satisfação à opinião
pública.
Ninguém é contra a transparência,
no entanto divulgar dados pessoais de servidores, como nome completo, CPF e
matrícula, não existe em lugar algum do mundo. Não vejo nenhuma grande empresa
nacional ou multinacional divulgar os dados pessoais e salários de seus empregados e executivos.
Será que não temos no Brasil,
coisas mais importante a informar do que o salário dos servidores ? Os
devedores da previdência social, os sonegadores, as ‘pilantrópicas”, as grandes
fortunas, os desvios do bolsa família, o valor das obras inacabadas e
abandonadas, o valor dos superfaturamentos que o TCU descobre e condena, o
repasse para prefeituras que vão para obras fictícias, os cartões corporativos,
as diárias do alto escalão do governo, os salários dos terceirizados,
comissionados e apadrinhados, uma
verdadeira caixa preta de 500 mil
pessoas etc.
Não vai melhorar a saúde pública, reduzir os
acidentes de trânsito, fazer com que vas
escolas preparem as gerações futuras, tapar os buracos das estradas, baixar o
preço da energia elétrica, tornar habitável as penitenciárias, construir creches, combater a violência urbana,
estabelecer segurança para os cidadãos, ampliar os baixos índices de saneamento, combater o narcotráfico. Também não vai
alterar a qualidade de vida das pessoas, reduzir a impunidade, conter a
corrupção epidêmica , frear as agressões
físicas contra mulheres e homossexuais, os estupros de crianças , estancar o
terror dos sequestros e o desprezo pela vida humana.
Se de um lado há uma movimento em
favor de transparência, mandando liberar a lista de quanto os servidores
recebem, de outro, a Justiça libera os
fichas sujas, os que roubam os cofres públicos, os que traficam drogas. A roubalheira
vai da maior prefeitura do Brasil, que é Brasília, à menor que não sei qual é. A impunidade e o
jeitinho andam de braços dados.
Mas o que está sendo divulgado
merece ser analisado, pois a divulgação de dados pessoais do cidadão enseja que sua privacidade possa
ser violada. Não me surpreenderei se uma decisão judicial cautelar vier a
suspender o excesso de zelo da transparência, em nome da inviolabilidade do
direito de cidadão.
Mal começou a divulgação, bancos
e seguradoras, já caçam os servidores oferecendo serviços. Logo logo os
telemarketings entulhados de “povos da floresta” receberão as listagens para que os infelizes
sejam alcançados por promotores e vendedores. Serão pinçados para que sejam
alvos de ofertas e promoções. Serão vitimas das trapalhadas que levaram os
aposentados e pensionistas a serem submetidos à crueldade do crédito
consignado que se espalhou como
ratoeiras em todas as cidades do pais. Os velhinhos que nada deviam em 2003,
hoje devem mais de uma folha e meia do INSS, R$ 42,3 bilhões. A folha é de R$
27,0 bilhões. A divulgação servirá para
que os brasileiros sejam intimados a dever e se endividem mais. Neste
sentido, parece mais um plano
emergencial do Ministro Mantega!
Provavelmente
os mentores dessa famigerada ideia tenham segurança 24 hs por dia paga pelos cofres públicos para
que, nada lhes aconteça. Dirão que é o custo da transparência. Mas quem
vai garantir a segurança a
partir de agora dos juízes, promotores, auditores fiscais, procuradores
,ministros dos três poderes, detentores
de chefias, servidores, e suas famílias, esposa, esposo, filhos , netos? os que não tem segurança estarão
à mercê dos mesmos oportunistas e certamente não terão mais sossego.
As autoridades
esquecem que no Brasil se mata por míseros 50 reais, diariamente vemos nas
tevês, rádios e jornais sequestros
relâmpagos onde o assaltante não conhece nenhum dado das vitimas, simplesmente
jogam com a sorte. Imagina agora que ele vai ter, nome, local de trabalho,
valor da remuneração. Com o CPF você pode fazer varias operações, inclusive
bancárias.
Neste episodio da divulgação dos
salários, há que se considerar que existe um teto. Certamente, todas as
autoridades ficarão no teto e aí começa o golpe de colocar o por fora:
passagens, diárias e hospedagem, ajuda de custo, cartões corporativos, bolsas,
etc e tal
Temo inclusive que a divulgação
dos salários seja pretexto para atrair a opinião pública contra os servidores,
suscitando pretexto para inibir a concessão de aumento salarial, assegurando o
arrocho “grego” e desestabilizando as relações entre servidores ativos e
inativos.
Os intelectuais de plantão que
criaram e aprovaram essa famigerada lei, espero que também criem mecanismos de
proteção aos servidores, no dia do pagamento pois teremos nos bancos duas
filas; uma para recebimento do pagamento e outra do assaltante ( ladrão ) com o
comprovante fornecido pelo Governo com o valor total de seus vencimentos.
(*)
Paulo César Regis de Souza é presidente da Associação Nacional dos Servidores
da Previdência e da Seguridade Social-ANASPS.
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