A Previdência dos
Estados e Municípios
Por Paulo César Régis de
Souza(*)
Quanto mais se mexe, nas caixas pretas
da previdência social, mais assombração aparece.
A criação de um “fundão’ de previdência para os 26 estados e Distrito
Federal e 5.300 prefeituras é uma assombração. E ponha assombração nisso. A
ideia tem lógica, ousadia e complexidade. A lógica está na proposta uma solução para um problema
que de ser tão grave é gravíssimo. Ousadia porque inova na busca de
alternativas de uma solução para a gravidade do problema identificado. A complexidade
deriva de que os gestores poderiam ser envolvidos na solução do problema são os
mesmos que criaram o problema. Portanto, é um circulo vicioso.
Os estados mais o DF
estão com um rombo estimado em R$ 1,5 trilhão nas suas contas previdenciárias.
Só os municípios das capitais estão com outro rombo de R$ 100 bilhões. Qual o
tamanho do rombo dos 5.300 municípios? Não se sabe. Sabe-se apenas que o
universo dos servidores civis, excluindo-se quase l milhão de servidores
militares ativos e inativos, ultrapassa 5,5 milhões de pessoas. É a população
de alguns países! É muito desacerto acumulado. Teria solução?
É tão grande o destrambelhamento das
contas de pessoal dos estados e dos municípios inclusive os das capitais e os
com população acima de 500 mil pessoas que ninguém sabe quantos servidores tem
e quanto se gasta, seja em termos de estatutários (concursados), temporários,
comissionados, terceirizados e quarteirizados, etc.
Ninguém sabe se Estados e municípios
pagam a contribuição patronal do RGPS, se descontam e recolhem a contribuição
dos servidores.
Quando a receita previdenciária estava
na Previdência a gente tinha informação sobre o processo. Na Previdência,
passou um ministro que ficou famoso o grito de guerra: “Não paga, corta”.
Mandava o Tesouro Nacional não transferir recursos para estados e municípios
inadimplentes. O país era um pouco mais sério. Estados e municípios que não
pagavam o RGPS iam pro Cadim, cadastro de inadimplentes, e eram bloqueados para
receber transferências federais. Os estados poderiam continuar socorrendo. Desde
que a receita previdenciária foi incorporada pela Receita Federal não há mais
informação e nada se sabe. A
permissividade acabou com a seriedade, a base aliada liberou geral e contas
públicas foram embaralhadas.
Alguém vai pagar a conta e este alguém
é a sociedade brasileira. Pois os contribuintes vão querer se aposentar e terão
como comprovar que eram filiados ao RGPS e pagavam. Se esta conta não fecha, muito menos fechará
a conta da contribuição patronal que tradicionalmente não é paga, e fica por
isso mesmo. Alias, a Receita Federal não fiscaliza, não cobra e não recupera credito
previdenciário. Só fiscal. Também, não
combate a sonegação historicamente equivale a 30% da receita líquida. Só este
ano baterá os R$ 60 bilhões e ficará por isso mesmo. Quem tiver alguma coisa
contra que se dane! O Brasil ainda não
se deu conta do grave equivoco de misturar a receita previdenciária com a
receita fiscal.
As tentativas de se estruturar os
regimes próprios esbarraram na indisfarçável má vontade de governadores e
prefeitos de cumprir os contratos. São poucos os que o fazem. Os governadores
continuam fazendo dos fundos criados instrumentos de ação fiscal e gestão
temerária. Previdência não rima com política mas eles insistem na rima e na manipulação
dos fundos que poderiam ter evoluído favoravelmente se não houve a malversação
dos fundos.
Há rastrilhos de dinamite em cada
conta que se audita, em cada caixa preta encontrada.
Pelo menos quatro mil, dos 5.400
municípios brasileiros, não arrecadam para se manter e teoricamente não
deveriam existir. Já nasceram pendurados no cordão umbilical do Fundo de Participação
de Estados e Municípios, A crise na Europa, está obrigando Grécia, Portugal, França
e Espanha e Itália a repensar a custosa e onerosa estrutura pública das pequenas unidades
federativas. Um dia, esperamos que breve, isto chegue ao Brasil para que nos
libertemos de uma situação de irremediável insolvência coletiva, vista, quando
cai a ficha, com indiferença por muitos contribuintes que acreditam nada tem a
ver com a situação.
No Brasil, estados e municípios são
entes federativos, portanto, autônomos,
podendo fazer o que fazem, em meio a cenas de ficção e de pouca transparência. Mas no caso de Previdência,
estão constitucionalmente impedidos de legislar sobre a matéria, o que nos
salva de um desastre maior.
Vejo com seriedade na proposta do
auxiliar do ministro Garibaldi Alves, Leonardo Rolim, que propõe a criação de
um fundão para gerir a previdência dos Estados e dos Municípios, nos moldes do
FUNPRESP, o Fundo de Previdência dos Servidores Federais. Estima ele, que mais
de 400 mil servidores, que ganham acima do teto da Previdência, poderiam aderir
ao novo Fundo, que teria o mínimo de credibilidade e uma margem de escala para
decolar. Nestes tempos de vacas magras, de parcas ideias, de ausência de
propostas inovadoras, a proposta é salvaguarda para de algo que incialmente
defini como lógico e complexo.
Lamento de início e por principio que
a proposta tenha sido submetida a aprovação do Ministério da Fazenda e deva
depois ser submetido aprovação do Ministério do Planejamento e da Casa Civil. Se no Ministério da
Previdência são escassos e raros os técnicos em previdência, tenho certeza que
nos ministérios citados não há um só. Houve no Brasil um tempo em que quem
definia a Política de Previdência era o Ministério da Previdência, com
propostas que legaram ao país uma Previdência Social respeitada em todo o
mundo. Pena que hoje seja um departamento do Ministério da Fazenda.
(*) Paulo César Régis de Souza é
presidente da Associação Nacional dos Servidores da Previdência e da Seguridade
Social-ANASPS.
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