ANASPS Urgente 17
Brasília, 27 de maio de 2015
Senado aprova MP 665/2015 do ajuste
fiscal sobre seguro desemprego.
Da Redação | 26/05/2015, 21h36 - ATUALIZADO EM 26/05/2015, 22h43
Jefferson Rudy/Agência Senado
Após
quase cinco horas de discussão, o Senado aprovou em 26.05 o Projeto de Lei de
Conversão 3/2015, decorrente da Medida Provisória 665/2014.
O texto, uma das MPs do ajuste fiscal, endurece as regras para a concessão do
seguro-desemprego, do seguro-defeso e do abono salarial. Agora, o projeto segue
para a sanção da presidente Dilma Rousseff.
Por
acordo das lideranças, a ordem do dia desta quarta-feira (27) foi antecipada
para as 14h, quando o Plenário retomará a discussão da Medida Provisória (MP) 664/2014,
que estabelece novas regras para a concessão do auxílio-doença e da pensão por
morte. Para quinta-feira (28), está prevista a da votação da MP 668/2015,
que eleva as alíquotas da contribuição para o PIS/Pasep e da Contribuição para
o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) na importação de bens. Ambas as
matérias perderão a validade por decurso de prazo se não forem votadas pelo
Congresso até o dia 1º de junho.
A
aprovação da MP 665 foi marcada por muitas críticas ao texto, até mesmo entre
alguns governistas. A sessão chegou a ser suspensa em razão de manifestações
nas galerias. A duração do processo também se estendeu porque senadores
contrários à medida usaram todas as oportunidades disponíveis para falar contra
o texto e tentaram manobras para atrasar a votação e tentar a rejeição da
matéria.
Grande
parte das críticas se concentrou no ministro da Fazenda Joaquim Levy. Os
senadores também lembraram o fato de o governo basear o ajuste fiscal em
medidas que prejudicam os trabalhadores, apesar de, na campanha eleitoral de
2014, a presidente Dilma Rousseff ter afirmado que não faria isso.
- O
Partido dos Trabalhadores hoje trai a sua essência, a sua criação, a defesa do
que batalhou a vida inteira. Eu não faço parte disso – disse Marta Suplicy (sem
partido-SP).
Apesar
das críticas, os senadores rejeitaram todos os destaques, pontos do texto
votados separadamente. No total, foram 11pedidos de votação em separado. A
maior parte tratava de alterações nas mudanças propostas para o
seguro-desemprego. Outros buscavam a manutenção das atuais regras de abono
salarial e também do seguro-defeso, concedido a pescadores.
Abono salarial
O
destaque em que se esperava maior discussão era o que tratava do abono
salarial. De acordo com a proposta, só teria direito ao abono no valor de um
salário mínimo quem tivesse trabalhado pelo menos três meses no ano anterior.
Quem trabalhasse menos, teria direito a um valor proporcional. Atualmente, a
lei exige 30 dias de trabalho para o recebimento ao benefício integral.
Durante
a votação, o líder do PMDB, senador Eunício Oliveira (CE), afirmou que votaria
a favor da medida porque o governo se comprometeu a vetar a parte do texto que
prevê a exigência de 90 dias de trabalho para a obtenção do abono. Não houve,
entanto, compromisso de veto sobre a proporcionalidade no pagamento.
Antônio
Carlos Valadares (PSB-SE), João Capiberibe (PSB-AP) e Cássio Cunha Lima
(PSDB-PB) alegaram que a mudança no abono salarial é inconstitucional. O
principal argumento é de que a Constituição garante explicitamente o pagamento
de “um salário mínimo”, não de parte dele.
- Com
a medida proposta pelo governo do PT, agora esse abono será pago à proporção
dos meses trabalhados, o que fere, de forma literal, o preceito constitucional.
Está lá escrito com todas as letras: pagamento de um salário mínimo. Não se
fala em pagamento proporcional – argumentou Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).
O
senador José Agripino (DEM-RN) garantiu que, em caso de aprovação do texto, seu
partido recorreria ao Supremo Tribunal Federal alegando a inconstitucionalidade
do texto.
Política
Aloysio
Nunes Ferreira (PSDB-SP) afirmou que as medidas de ajuste fiscal do governo se
baseiam em aumento da carga tributária e retirada de direitos dos
trabalhadores. Para ele, o governo dificulta a concessão de benefícios aos
trabalhadores no momento em que o desemprego aumenta “de maneira assustadora”
no Brasil.
- Não
há como votar a favor desta medida, que ocorre exatamente num momento em que,
em razão do desemprego, as organizações sindicais, os sindicatos e as centrais
sindicais se encontram, evidentemente, enfraquecidas pela relação desigual
entre o trabalho e o capital – lamentou.
Roberto
Requião (PMDB-PR) criticou as medidas do ajuste fiscal e disse que o plano só
tem sentido se o objetivo for desmoralizar governos de esquerda. Para ele, ao
aprovar o texto, o Legislativo e o Executivo renunciam às suas prerrogativas,
transferem suas funções ao mercado e realizam o ideal neoliberal do Estado
mínimo.
- Não
ao reajuste-Levy! Não à recessão e ao desemprego! Não à prevalência dos
interesses do mercado sobre a ventura de vida dos brasileiros! Não à
precarização do trabalho! Não à precarização da democracia! – disse o senador.
Randolfe Rodrigues, por sua vez,
afirmou que o caminho de política econômica proposto pelo ministro da Fazenda,
está a serviço do capital financeiro e contra os interesses dos trabalhadores.
Para ele, o ministro aprendeu este caminho com a escola neoliberal.
-
Esse caminho escolhido pelo governo não é nem sequer o caminho que foi apontado
pelo povo brasileiro no segundo turno das eleições, que disse “não” a esse tipo
de política econômica. O ministro Levy está desconectado do sentido real das
urnas, está desconectado, concretamente, do rumo que o país precisa seguir.
Ministro
Para
Marcelo Crivella (PRB-RJ), aprovar a medida não engrandece e nem dignifica o
Senado. O senador se disse surpreso por ter de subir à tribuna e falar contra
um governo que sempre apoiou. Ele reproduziu críticas ao ministro Levy, que,
segundo seu relato, é chamado nas ruas de “vampiro do CTI”.
- Eu
pediria que o Ministro da Fazenda, num momento crítico como este, em que
atingimos o paroxismo da nossa dificuldade, o vértice das nossas aflições
econômicas, pudesse se inspirar nos exemplos de patriotismo e de solidariedade
e buscasse novos caminhos, mas não colocasse o peso na classe trabalhadora.
Isso não é justo.
Magno
Malta (PR-ES), Ricardo Ferraço (PMDB-ES) e Ronaldo Caiado (DEM-GO) criticaram,
ainda, os cortes no orçamento em áreas como saúde e educação. Apesar de
discordarem das medidas do ajuste, Malta e Caiado disseram que a principal
culpa é não é do ministro, e sim da presidente Dilma Rousseff, que não se
mostra coerente com seu discurso anterior.
- Ele
sempre pregou isso. Ele sempre falou isso. Ele nunca saiu da posição dele. Quem
está desconectada é a Dilma. Ela é que saiu da posição dela – acusou Magno
Malta.
Ajuste
Senadores
também sugeriram que o ajuste adequado incluiria, por exemplo cortes da máquina
pública. Ronaldo Caiado criticou o excesso de gastos com os grandes eventos
esportivos em detrimento de áreas essenciais para a população. Já Aécio Neves
(PSDB-MG) defendeu cortes nos ministérios.
- O
ajuste do PSDB, passaria, em primeiro lugar, pela racionalização da máquina
pública neste Brasil, para acabarmos com esse acinte, essa vergonha de termos
quase 40 ministérios e dezenas de milhares de cargos.
O
líder do PT, Humberto Costa, pediu um voto de confiança no ajuste fiscal, que
classificou como a base para a retomada do projeto de governo. Em resposta às
críticas dos senadores, lembrou que o governo já editou uma medida provisória
(MP 675/2015)
que eleva a Contribuição Social Sobre Lucro Líquido (CSLL) dos bancos de 15%
para 20%. O senador disse que quer ver a reação dos oposicionistas quando o
governo tentar taxar os impostos sobre grandes fortunas.
-
Outras medidas virão para taxar grandes fortunas, grandes heranças, aí eu quero
ver os defensores dos trabalhadores que vieram aqui hoje nos atacar defenderem
os seus pontos de vista da mesma maneira - disse.
Agência Senado (Reprodução autorizada
mediante citação da Agência Senado)
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