A favor de um
programa de governo
Paulo César Régis de Souza (*) |
No
horário eleitoral gratuito - que de gratuito não tem nada, pois os custos são
pagos pela Receita Federal a peso de ouro - os partidos políticos raramente se
ocupam do tema Previdência Social. Repetem a lengalenga que seus partidos
defendem mais escolas, hospitais, estradas, segurança, transportes públicos e
educação. Tudo em vão! Espremendo não se aproveita nadica de nada.
Nossos partidos têm, por viés de cópia, os mesmos
manifestos, os mesmos programas, os mesmos ideários e as mesmas propostas. Pode ser de esquerda, direita ou de centro.
Há uma certa imbecilização de seus
ideólogos e um distanciamento dos eleitores.
São partidos que pregam uma Escandinávia de soluções para
organizações tribais. Não há conexão com
a realidade. São esquizofrênicos, diletantes, minimalistas.
Gostaria que fosse diferente. Especialmente neste momento de
abertura do debate da sucessão presidencial de 2014, em que o tema Previdência
Social certamente será esquecido ou lembrado de raspão. Francamente, é ruim!
A questão da seguridade social no país é muito forte e
impactante para ser deixada de lado. Nesse “pacto de gerações” se apoia a nossa
sociedade, sendo ela contributiva ou não. São quase 60 milhões de contribuintes
para instituto de previdência, 12 milhões para
previdência complementar aberta, 6 milhões para previdência
complementar fechada, 27 milhões de beneficiários do Regime Geral
de Previdência Social-RGPS, 10 milhões de segurados públicos, 5 milhões de beneficiários públicos federais,
estaduais e municipais, 4 milhões da Lei
Orgânica de Assistência Social, idosos sem renda e incapacitados, 13 milhões no
bolsa família .É uma massa não desprezível. Isto sem falar nos 20 milhões de
marginalizados e excluídos, que não reclamam de nada por falta de acesso à
dignidade humana.
Portanto, os partidos políticos deveriam mergulhar nas
questões que afligem a Previdência Social. Não em suas lideranças
despreparadas, demagógicas e oportunistas, sem compromisso com o Estado, com os
cidadãos e pouco sensíveis à realidade social. Deveriam considerar seus quadros
pensantes, sua alma e seu “soul”, a fim de melhorar a Previdência pública, os
regimes próprios, os regimes complementares, bem como o leque de assistência
social que garante que muitos brasileiros não padeçam na miséria extrema.
Já ouvi dizer que nada se alterará enquanto o sistema
econômico financeiro que aí está suportar o financiamento do circo. A corda está esticando. Hoje, o Tesouro paga
o déficit da previdência no conceito arrecadação liquida - folha de
contribuição menos à despesa com benefícios do RGPS -, mas paga também os
rurais, os assistenciais, o bolsa família, o seguro desemprego e etc. Dizem que
o Tesouro está pagando, mas na realidade quem está pagando somos nós, através
de uma crescente e nefasta carga tributária, um Imposto de Renda que pune os
assalariados com o desconto na fonte e uma política tributária que favorece os
caloteiros dos refis da vida.
Convenhamos
que nunca é demais esperar que os candidatos à sucessão presidencial apresentem
ao bravo povo brasileiro propostas para
ajustar a Previdência Social. Por
imperiosa necessidade para que ela não afunde.
O “pacto
de gerações” foi criado no século XVIII por estadistas alemães e ingleses,
quando pensaram no “wellfare state”, ou seja, o estado do bem estar social, que
funciona a contento quando bem administrado. Apesar disso, os estadistas não
previram a bolha demográfica que viria como consequência da melhoria da
qualidade de vida em todas as nações que optaram por água tratada, saúde, saneamento,
vacinação, educação e infraestrutura.
A
generosidade do pacto, em que os trabalhadores ativos contribuem para financiar
os inativos, impõe certas regras e ajustes para que isso não entre em colapso.
Há
pouco tempo atrás o Brasil eliminou a aposentadoria por tempo de serviço,
adotou a de tempo de contribuição em 35 anos e fixou idade mínima para o
servidor público, 60 anos para as mulheres e 65 anos para os homens. A mudança
foi vista com euforia, pois tinha o componente da contribuição e do
financiamento. Dizia-se que daria folga ao caixa dos sistemas publico e privado.
Não deu. Uma pessoa que comece a contribuir aos 20 anos se aposentar aos 55
anos, teria uma sobrevida de 20 a 30 anos, recebendo benefícios
previdenciários. A mudança está vencida e que pede um novo ajuste, já que a
população brasileira tem hoje a expectativa média de vida de 74 anos, 69/70
para homens e 78/79 para mulheres.
Penso
que os brasileiros esperam dos candidatos um compromisso com o futuro da
Previdência Social. Aguardamos os programas de governo dos candidatos para nos
certificarmos de que nos próximos quatro anos não teremos sobressaltos.
Não
é possível e muito menos desejável a convivência com o uso da receita previdenciária
para fins políticos, com a má qualidade da governança da receita
previdenciária, com benefícios quem não
asseguram mais uma velhice tranquila, com precatórios que corrigem no
judiciário as injustiças, com o queijo suíço de furos no sistema de pensões,
com a diferenciação no sistema de reajuste dos benefícios do mínimo e acima
dele, com a vigência indefinida do fator previdenciário, com a ausência de uma
idade mínima para o trabalhador do RGPS, com a demora na marcação de um
atendimento nas unidades do INSS, com a precária condição de trabalho da
pericia médica, com a falta de programas de reabilitação profissional, com o
atraso injustificado na implementação das novas agências do INSS e nem com a
falta de servidores no INSS.
Paulo
César Regis de Souza é Vice - Presidente Executivo da Associação Nacional dos
Servidores da Previdência e da Seguridade Social
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