Fundos pensão, sem lenço, sem
documento
O
episódio da corrupção entre doleiros, deputados federais e estaduais, vereadores
e prefeitos, secretários municipais de finanças, moças bonitas, etc; envolvendo
R$ 400 milhões de desvio de recursos públicos de fundos públicos municipais de
Previdência Social é apenas uma pequena mostra do que pode representar o que se
chama Regimes Próprios de Previdência Social-RPPS, seja a previdência social de
estados e municípios.
O
país tem 5.400 municípios e em tese poderia chegaria a dispor de 5.400 fundos
municipais de previdência.
Na
realidade, mais de dois terços das prefeituras municipais sempre contribuíram
para o Regime Geral de Previdência Social-RGPS.
Contribuíram,
em tese, pois sempre optaram em não pagar seus 22% sobre a folha, descontavam e
não recolhiam a contribuição dos empregados, praticando a apropriação indébita.
Um
passivão, já parcelado e reparcelado dezenas de vezes, mesmo nos tempos atuais,
quando em homenagem aos caloteiros,o prazo de pagamento tenha sido esticado
para 240 meses, seja 20 anos, que é para não pagar e passar de governador para
governador, de prefeito para prefeito,
como algo impagável.
Em que pesem os esforços do Ministério
da Previdência Social para estruturar os fundos estaduais e municipais de
previdência social, a coisa caminha lentamente, cercada de mistérios.
Muitos
governadores, com a perda dos bancos estaduais, transformados em emissores de
moeda dos estados, ricos ou pobres, passaram a usar os fundos estaduais na
emissão de moeda para suas políticas de roubos e furtos, desvios e falcatruas!
A previdência social dos
estados sempre foi um baita descalabro, no tempo dos institutos estaduais de
previdência. Afirmo: de estados ricos e pobres. Só fechavam no vermelho.
Seguia o mau exemplo da União
que nunca recolheu sua cota patronal quando tinha quase 1 milhão de celetistas
e descontava e não recolhia a contribuição dos trabalhadores, também praticando
a apropriação indébita.
Mesmo depois do Regime
Jurídico Único, a União continuou não recolhendo a cota patronal de 22 % de
sobre a folha e apoderava-se da contribuição do servidor. O Tribunal de Contas
da União- TCU cansou de produzir relatórios cobrando. De nada adiantou, foi
tudo incorporado ao déficit público.
Quem
teria competência para fiscalizar os tais regimes próprios estaduais e
municipais? Certamente os tribunais de
contas dos Estados. Mas não fiscalizam. O MPS deveria fiscalizar, mas não
dispõe de só auditor fiscal para fiscalizar. Rombos surgiram e desapareceram com
e sem rastro.
Estamos
diante de instituições com 4.826.354 servidores ativos, 1.859.61- inativos e
665.730 pensionistas, com um total de aplicações de R$ 172. 639,013. 640,87
(dados do CADPREV-Web de 01.10.2013) e disponibilidades financeiras de
R$1.882.520.146,80.
Recentemente
o jornal Estado de S. Paulo revelou que “os fundos de pensão de servidores
públicos estaduais e municipais acumularam perdas nominais de R$ 528,17 milhões
em aplicações feitas entre 2009 e 2013. O prejuízo é atribuído em parte a
esquemas criminosos e à adoção de práticas que burlam regras estabelecidas pelo
governo federal”. Já o Relatório do
Ministério da Previdência Social apontou que “fundos estariam potencialmente
sendo utilizados para desvio de recursos” e “colocando em risco a solvência de
todo o sistema”.
O
MPS teria encaminhado 200 relatórios à Polícia Federal, Banco Central e
Comissão de Valores Mobiliários para investigar irregularidades.
Não
há a menor garantia de que isto deixará de ocorrer. Vão repor o que
roubaram? Muito difícil. O processo está
sob controle? Claro que não. Há segurança dos servidores contribuintes? Também
não. O MPS pode evitar fraudes? Não. Não tem cultura para isso. Não desenvolveu
no passado nem desenvolve no presente. Os agentes da corrupção e os operadores
de mercado podem dispor de tais fundos para seus propósitos sinistros.
Com
a migração dos institutos para fundos de pensão complementares estaduais e
municipais, supõe-se que haverá fiscalização, a exemplo do Funpresp, da União,
através da Superintendência de Previdência Complementar-PREVIC, do MPS, com 324
fundos públicos e privados com ativos de R$ 662,281 milhões, 6,5 milhões de
participantes, assistidos e dependentes, mas entregues a gestão de alto risco (não
profissional, mas política) e que fecharam o segundo trimestre de 2013 com um
déficit de R$ 22,3 bilhões.
Isto
não é de hoje, vem desde 1974, quando se regulamentou a previdência
complementar no país.
Doutra
parte, não há notícias de algum plano privado de previdência, de bancos e
seguradoras, que tenha sido pego em flagrante violação de sua carteira de
investimentos que chegou a R$ 355,055 milhões, com provisões de R$ 346.706
milhões, com 12,7 milhões de contratos ativos e 96.402 pessoas
usufruindo dos benefícios. A fiscalização da SUSEP passa longe, se é que
tem fiscalização. Funcionam quase que em regime de autoregulamentação. Há
consenso de que seus fundos sejam administrados por terceiros, reduzindo o
risco de irregularidades, sem gestores indicados politicamente.
(*) Paulo César Régis de
Souza é Vice- presidente Executivo da Associação Nacional dos Servidores da Previdência
e da Seguridade Social (ANASPS).
Nenhum comentário:
Postar um comentário