A velha ordem e a nova
esperança
Por Paulo César Régis de Souza (*) |
Nos meses que precederam as
manifestações, o povo era pautado todos os dias e noites pelo crack devastador,
escolas sem aulas, hospitais sem leitos, menores assassinos, violências de todos
os tipos, policiais envolvidos com o crime organizado, dentistas queimados,
políticos defendendo seus interesses escusos, passeatas e protestos gays. Um
debate sufocante e anestesiante.
Quando o monstro despertou, fiquei
atordoado. Ninguém previu. Todos os analistas, colunistas, blogueiros e
adivinhos falharam. Surgiram mil explicações e justificativas.
Mas nada, nada, que traduzisse: verás
que um filho teu não foge à luta.
O que mais me intrigou é que a geração
das manifestações é de 90 para cá. Tem 23 anos no máximo. Não sabe o que se
passou no País nas décadas de 50, 60, 70 e 80. Ninguém viu Mané Garrincha e
Pelé jogar, não sabe o que houve em 64 a 85 no País. Não participou das
manifestações contra a ditadura e pela abertura.
Não viu a aventura de ascensão e queda
de Collor, no vácuo de uma corrupção glamorosa.
O que essa geração viu foram políticos
de quinta categoria, agrupados em dezenas de legendas de aluguel, esquartejando
os recursos públicos, em emendas suspeitas, para obras também suspeitas etc.
Má qualidade na gestão pública com
quase 40 ministérios, milhares de comissionados e terceirizados, o BNDES
transformado em BNDEX. Muita indecência e nada de moralidade.
A Anasps tem apenas 21 anos.
Somos contemporâneos dessa geração. Na nossa área, assistimos uma brusca
mudança do Regime Geral de Previdência Social-RGPS que assegurava um
mínimo de 80% do último salário para o trabalhador que se aposentava e foi
levada a assegurar basicamente dois salários mínimos.
Espero que a nova esperança fortaleça o
RGPS e faça com a que a Previdência Social se recupere para que as
futuras gerações, estas que encheram as ruas, não sejam submetidas aos vexames
das gerações atuais, as de seus pais, que ainda esperam a tábua de salvação do
fim do fator previdenciário, a instituição da desaposentação para salvaguardar
seu futuro, reforma do financiamento da Previdência, para que haja recursos
para o pagamento de benefícios urbanos com base nas suas contribuições, sem
achatamentos fortuitos.
(*) Paulo César Regis de Souza é vice-presidente executivo da Associação Nacional dos Servidores da Previdência e da Seguridade Social (Anasps)
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